Jon Bon Jovi – deus do rock, filantropista, envelhecendo muito bem - tem destes maravilhosos. Eles são brancos e certinhos e há muitos. São um pouco ameaçadores, mas muito glamurosos. Eles funcionam brilhantemente no palco. Jon os usa de maneira maravilhosa. Ele os mostrará a você sem avisar, sorrindo repentinamente (talvez com ironia, flertosamente, ou talvez só porque está sentindo cócegas), e você se encontrará hipnotizadolong pelos dentes do cara. Ele tem dentes de estrela, sem dúvidas.
Isso é bom pois, da onde estou, o resto dele parece um pouco como um cara de meia idade, amassado, em uma camisa de lenhador.
Encontrei com ele na sala de conferências de um hotel de uma rede cara em São Paulo. Era início de outubro, na noite antes que a banda tocaria para 60,000 fãs brasileiros, em um show lotado. Fui conduzida a uma sala com muito ar condicionado, passando por seguranças vestidos em sete tons de severidade, tudo muito agourento. Eu esperava ser confrontada por grandes quantidades de tensões reprimidas e mal vestida de couro, sensualidadede cabelos compridos, a forma abreviada de deuses do rock no geral, e Jon Bon Jovi em especial. Mas uma vez dentro, não vi nada além de um cara indefinido em uma cadeira. Só quando o cara indefinido disse aos seguranças que se retirassem ("Ficarei mais confortável sem vocês. Vão!"), se virou e lançou o poder total de sues dentes em mim que eu o reconheci como Jon Bon Jovi.
Bon Jovi está há duas semanas na parte Sul Americana da turnê mundial. A turnê The Circle teve início em Maio e já passou pela América do Norte e Europa. Voltará à América do Norte depois da parte Sul-americana (a primeira visita da banda em 15 anos).
Então Jon está perturbado com tanta viagem. Ele havia acabado de chegar em São Paulo; estava meio desconexo nos primeiros minutos da entrevista. Suas frases começavam e continuavm sem sentido e ele colocou a culpa em mim. Eu pergunto se ele está curtindo os shows na América do Sul (não estou tão entediado, de verdade, só estou puxando papo para depois iniciar as perguntas maiores); e ele fala um pouco errado, fala coisas sem sentido, me diz (impacientemente) que ele: "Está tentando me responder de uma maneira que (eu) entenderei...", ele perde o rumo de novo e sugere que eu: "Não vou gostar do que (ele) está dizendo!"
Então ele para, olha em meus olhos, sorri.
"Não! Vamos começar de novo! Não quero que seja assim! Vamos voltar ao começo, voltar para quando você diz: Como você está? E eu digo: Estou cansado! É tudo que direi."
Jon Bon Jovi é um deus do rock por mais da metade de sua vida.
Você nunca achou que isso aconteceria com você?
"Nunca por um minuto eu duvidei que não aconteceria."
Por que tinha tanta certeza?
"Ingenuidade da juventude."
Jon concede esta entrevista com o interesse de promover o Greatest Hits.
Por que um Greatest Hits agora, eu pergunto. É uma pausa na criatividade, uma oportunidade para reflexão, uma celebração dos 25 anos?
Ele responde de maneira seca "um compromisso". "Nada mais do que isso."
Há dois anos e meio atrás ele fez um acordo com o diretor da universal, sua gravadora. O diretor permitiu que ele fizesse um álbum country em Nashville. "Eu liguei para ele e disse: 'Eu quero fazer isso.' Houve silêncio no telefone e então: 'Acho que nesse ponto você pode fazer o que quiser, mas...você me faz um favor quando perder toda minha grana e me dá um Greatest Hits? Eu disse: 'Combinado.'"
O álbum country, Lost Highway, acabou vendendo mais que qualquer pessoa imaginasse.
Você tem capacidade ilimitada para o sucesso comercial, eu disse.
Ele faz uma pausa; ele não tem certeza do que eu quis dizer com isso. Jon define um certo tipo de rock: suave e feminino, que agrada as pessoas, faltando crueza, credibilidade. Os críticos não gostam dele, a princípio.
"Weeeeeell… Se você acha isso, obrigado..." ele diz.
Não sou só eu que vejo, os números confirmam.
"Há números, números grandes. Mas você sabe o que são os grandes números, na verdade? São soma de pequenos números. E a verdade é, esta é nossa primeira vez na América do Sul em 15 anos, e a gente não veio por 15 anos pois não vendemos tão bem quanto na América. Não é como se tivéssemos apelo mundial, que quando lançamos um disco ele vende muito em todos os lugares. A Europa vira as costas para alguns álbuns e abraça outros, assim como a América."
O sucesso comercial é importante para você?
"Não. Mas permite que você continue fazendo. E também vira uma plataforma para tantas outras coisas que tornaram-se parte da minha vida. Eu não sei se eu teria a mesma aceitação na política presidencial se não tivesse tanto sucesso no meu trabalho."
Jon é muito politisado, um democrata. Em 2004 ele saiu em turnê em benefício de John Kerry. Em 2009 ele fez campanha em benefício de Obama.
Ele diz que sua politização teve início na sua juventude.
"Você nasceu na era do Kennedy e veio da época quando o Tio Ronnie dizia que tudo ficaria bem pois Gorbachev derrubous aqueles muros! Foi uma época politicamente romântica."
Você acreditou nisso?
"Eu acreditei nos anos 80, com certeza!"
Mas e o Tio Ronnie, Ronald Reagan?
"Eu votei nele! 1980, a primeira vez que pude votar."
Você votou em Reagan?
"Claro! Eu tinha 18, como não me impressionaria?"
Mas você é Democrata!
"Convicto. Foi uma... realização. Aconteceu pouco tempo depois. Eu acordei, estava educado. Saí da escola, comecei a enxergar o mundo, comecei a olhar para as coisas de maneira um pouco diferente. E com o tempo... e a experiência, vem..." ele vacila "...mais experiência. Ha! Eu quase ousei dizer "sabedoria", mas..."
Você não acha que é sábio?
"Oh. Não sei."
Agora, em consequência de seu trabalho em prol de Obama, eles tornaram-se amigos.
"Amigo...? Não, eu não diria que somos amigos. É uma palavra muito forte. Eu encontrei várias vezes com ele."
Hillary Clinton?
"Bill! Al! Obama! Recebi emails da Casa Branca hoje!"
Dizendo o que?
"Dizendo que estou sendo vetado para uma posição no comitê pela Casa Branca."
Jon nega, copiosamente, que tenha qualquer ambição política. Ele diz: "É um trabalho ingrato! Um trabalho de merda! E eu tiro meu chapéu para as pessoas que o fazem. Algumas têm tanta convicção pura."
Eu digo, mas você parece ter convicção pura. Você acredita nos democratas. Você acredita na justiça social. Há 4 anos você lançou Jon Bon Jovi Soul Foundation, uma organização sem fins lucrativos dedicada à lutar contra pobreza nos EUA, e desde então você tem passado muito tempo lutando.
Ele disse "Você tem! "Você tem convicção pura, pois você enxerga quão injusto é o mundo em que vivemos…"
Como homem rico e priveligiado, você se sente na obrigação de fazer caridade?
"Eu não sei se estou totalmente comprometido com isso", diz ele. "Mas eu acho que independente do seu estado econômico, tirar um tempo para ajudar os outros, de qualquer maneira que você achar necessária, pode ser gratificante para alma."
Você procura constantemente por maneiras que gratifiquem sua alma?
"Não necessariamente. Acho que estou fazendo um bom trabalho."
Jon Bon Jovi daria um político nato, não só porque é um cara mandão. Jon se descreve como "o diretor dessa corporação".
Você faz acontecer, não faz? Eu digo. Você faz as ligações, cria os repertórios e trabalha demais.
"Ah sim! Ah sim! Ah sim! Ah sim!"
O fato de que os outros– Richie, David, Tico – são menos envolvidos, menos responsáveis, mais passivos, te fere? De acordo com várias cenas do When We Were Beautiful, eles passam muito tempo em iates, jogando golfe . Isso não te irrita?
"Não. E você sabe por que? Há diversos motivos. Quando você olha para o letreiro, você vê o nome de quem? E eu estava disposto a aceitar esta recompensa, com aquele pagamento. Eu era o garoto que tinha escrito no boletim: "Não sabe brincar com os outros…'" Ele ri. "Eu não podia estar em uma situação onde outra pessoa controlasse meu destino. Eu provavelmente não sou candidato para estar em um exército, ou trabalhando em uma fábrica, ou... eu tenho que afundar ou nadar em meus próprios méritos."
Você é controlador?
"Eu adoro Equipe! Sou um grande devoto a Equpe! E eu divido a riqueza e todos os elogios, mas.."
Você tem que ser o líder da equipe?
"Sim."
Então, você o chefe em casa?
"Sou sábio o suficiente para saber que as mulheres são mais espertas que qualquer homem e que as mulheres poderiam controlar o mundo."
Você acredita nisso?
"Eu sei disso."
Você é feminista?
"Sim! Sim! E... essa idéia de que a escala de pagamento é desigual, está além da minha compreensão. Todo cara sabe...e ele diz que não, é mentiroso...que eles obtêm sua sabedoria de suas mães, esposas e filhas."
Pergunto a ele que tipo de marido ele é, ele responde: "Um que foge com mais frequentemente do que não. Ha ha! Não do tipo perfeito! Confie em mim! Não sou perfeito em nenhum nível!"
Conversamos sobre envelhecimento. Jon tem 48 anos. Quando era jovem era absurdamente bonito. Quão ciente disso ele era naquela época?
"Na medida em que vocês diziam que eu era bonito. Uh huh."
Você ainda é, digo eu. Na primeira vez que o vi ele estava amassado, durante o percurso da entrevista ele despertou e meio que voltou à sua própria face. Ele ainda tem as maçãs do rosto significativas, feições bonitas, aqueles dentes…
Ele ri .
"Bem, acho que sua visão está indo embora."
Você gostava de ser tão atraente na juventude?
Agora posso dizer. 'Obrigado-é um elogio e tanto.' Aos 26, 27, eu me irritava com isso. Pois eu pensava; Cacete! Estou trabalhando tão duro! Tentando tanto! Estou tentando fazer o que quero fazer enquanto tento te agradar!"
E a gente só falava de quão bonito era?
"Exato."
Você é vaidoso?
"Sou vaidoso na mediade em que acho que estou tremendamente fora de forma agora. Se você quer que seja totalmente honesto, estou com 5kg acima do peso, bebendo muito e chorando de tédio."
Você tá bem, eu digo.
"Você é muito gentil. OK, não sou o Elvis gordo, para 48 eu estou até que bem, mas você sabe, estou de bem com o envelhecimento."
Quais são as vantagens da sua idade?
"Você se torna aquela coisa para qual olhava em seus pais e as pessoas mais velhas e dizia: "Não! Não quero viver e chegar a ser tão velho! Não quero!" Na verdade é bem melhor do que morrer. E há várias pessoas de minha idade que estão morrendo. Deus, eu não queria isso! Seria terrível! Você pode ver por que as pessoas engordam, envelhecem, desistem! Devido à rotina: acordar, vazer a mesma merda. Quando você não conhece mais nada, e não está disposto a abrir os olhos e ir em outra direção...aquela esteira faria qualquer jovem virar velho."
Acabamos falando de política de novo.
Como você acha que o Obama está indo?
"Não muito bem. Quero o cara que discursou muito bem! Acho que ele está ali dentro. Quero que o cara saia agora. Acho que ele aprendeu o caminho pelos corredores.! Ele ri. "Eu acho que ele sabe onde as tomadas estão! E: "OK! É isso que eu vim fazer". E só levantar e dizer: "Foda-se!'"
Você acha que ele irá
"Espero que sim".
Nenhum comentário:
Postar um comentário